Talvez o tempo tenha passado e eu esteja na fila do mercado, com duas barras de chocolate nas mãos e fones no ouvido, mas você saberá que sou eu. Você sabe que no fundo eu tenho medo e sabe dos meus motivos para fugir. Sabe por que? Porque amar dá medo. Eu fugi porque minha preocupação se veste de covardia.
Eu vou arrumar, como sempre, mil problemas e desculpas para não te ver, quando eu na verdade só quero que você apareça de surpresa na porta da minha casa e me pegue vestindo pijama, com o cabelo desarrumado. Eu vou dizer que não gostei e até posso fingir estar brava, mas é só medo vestido de birra.
Eu vou sumir e até parar de te procurar, mas todos os dias vou abrir a janela da nossa conversa e ficar olhando você ficar online e offline, como uma grande obsessão, imaginando diálogos e cenas que ainda não vivemos. Eu vou lembrar com saudade de uma certa tarde no parque e do quanto eu ri quando te vi vermelho e sem graça. Eu vou ficar em silêncio, por achar que é mais seguro para nós dois, mesmo que por dentro eu seja um turbilhão sem fim de pensamentos e desejos. É tudo receio vestido de silêncio.
E quando eu estiver escapando, me pressione contra a parede, como naquela escada do metrô e diga que não vai me deixar ir à lugar algum. Se eu colocar mais problemas, dúvidas e falar sem parar, preencha minha boca com a sua e cale esse medo que insiste em nos separar, aperte meu corpo contra o seu e apenas faça tudo isso sumir.
Mas quando, e se, me encontrar, não me deixe fugir.