Coisas da vida

Regurgitofagia

regurgitofagia

Comecei a ler o livro Doidas e Santas da Martha Medeiros e ele é basicamente um apanhado de crônicas. Logo de cara, fiquei por longos minutos lendo e relendo uma que cita esse termo: Regurgitofagia (referência para o uso veio do espetáculo teatral de mesmo nome de Michel Melamed).

Na crônica, Martha nos faz pensar no termo exatamente conforme o significado da palavra, ou seja: “vomitar coisas que não precisamos” (regurgitar) e “absorver coisas que realmente precisamos” (fagia). Após ler, fui automaticamente transportada para, coincidentemente, novembro de 2010. Acho que nem eu mesma esperava que minha vida fosse mudar – e continuar em constante mudança – dessa forma. Eu tinha 20 anos, tinha um emprego que me permitia estudar (mas não era o que eu queria fazer), estava terminando o segundo ano da faculdade, namorava… enfim, estava bem ocupada, mas naquele conforto do conhecido.

Acho que foi quando tive a primeira amostra de que a vida não é controlável, pelo menos não como gostaríamos que fosse. Nessa época, na verdade, eu fiquei feliz e com medo das mudanças. Apareceu uma oportunidade de estagiar na minha área, porém sem remuneração. Não sei de onde veio a força e a cara de pau que tive pra largar meu emprego (sem um puto guardado, graças à vida de universitária) e investir nisso. Ou seja, eu não tinha perspectiva nenhuma, poderia não ter dado em nada… mas, pelo contrário, deu e rendeu MUITO.

Depois disso, só veio mais um monte de mudanças. No fim de dezembro, junto com as aulas, o estágio acabou. Fiquei janeiro de “molho”, descansando e colocando séries em dia. Até o dia que bateu o cansaço da monotonia e montei meu portfólio (com um HTML cheio de tabelas, Jesus) e entrei onde estou até hoje. Já fui estagiária, trainee e hoje sou Jr. Já aprendi sobre criação, SEO, HTML, CSS e até um pouquinho de PHP. Terminei meu namoro de quase 5 anos e já me apaixonei e quebrei a cara incontáveis vezes desde então. Adotei outro gato, reformei minha casa, aprendi a dirigir. Terminei a faculdade, fiz formatura, coloquei e tirei o aparelho. Fui quase loira, ruiva, morena e tudo de novo. Cortei o cabelo Joãozinho, conheci a Argentina e depois o Uruguai. Já vomitei e comi muito sapo, mas também já vomitei e absorvi muita coisa boa.

Acho que a graça da vida, portanto, é realmente viver nessa constante mudança, nessa constante regurgitofagia.

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