Coisas da vida

Minhas desculpas para mim mesma

botasOi Vivis,

Confesso que não lembro a última vez que conversei com você. Talvez tenha sido um pouco antes de participarmos dessa grande confusão que é o mundo dos adultos, né? De repente não tinha mais tempo pra conversar. Eu precisava fazer muitas coisas: trabalhar, estudar, namorar, participar das rotinas de casa etc.

No início, como tudo era novidade, eu estava muito distraída para prestar atenção se você estava acompanhando todas essas mudanças. Você bem tentou me mostrar algumas coisas “erradas”, principalmente que eu não precisava sofrer tanto para ser feliz, mas não dei muita atenção. Aí você ficou frustrada. Enquanto isso eu me enganava vivendo no estilo “a vida é assim mesmo” ou “a culpa não é sua, é dos outros”. Sua frustração foi aumentando até atingir o nível físico, primeiro o estômago depois outros problemas e ainda assim não entendi o recado. Mais uma vez culpei a rotina, a má alimentação, a faculdade, a falta de tempo…

Fui até o limite e hoje eu nem sei porquê. Em um momento de lucidez, larguei tudo o que me fazia mal e mudei minha vida. Tudo passou a caminhar com muito mais leveza, até minha saúde melhorou 1000%. Mas como disse, foi um momento breve, eu não tinha aprendido a lição e não aprendi a te ouvir. Justo você que é a pessoa que mais se importa comigo. Com essa primeira mudança, eu voltei a ficar “cega e surda” com relação à você principalmente por achar que mudando os aspectos externos tudo estaria certo, que os problemas iam acabar. Santa inocência. Você me avisou: “Vá devagar”, “Preste atenção”, “Pare de protelar”, “Não cobre tanta perfeição”. Mas no meio dessa bagunça que é a vida, os gritos, os carros, as pessoas… tudo faz muito barulho.

Me desculpe. Eu sinto muito por não te ouvir.

A gente tende a esperar muito das pessoas e você me avisou sobre isso também. Nunca é bom depositar todas as expectativas da sua própria em outras pessoas além de você mesmo. Mas as experiências estão aí pra isso. Tentei consertar as coisas internas com mais problemas externos e me sobrecarreguei. Você precisava de mim e eu precisava de você e éramos duas completas estranhas uma para a outra.

Ainda assim você continuou lá “Para com isso!”, “Você não precisa disso”. Mas aí vem o ego e diz que você precisa sim disso ou daquilo, fazendo a gente cair numa armadilha. Desejo tanto aprender de verdade. Então parei, precisava respirar. Estava cansada de por esforços em coisas que não sabia se queria (porque ainda não tinha conversado com você) e deixei que alguém dissesse o que eu precisava. Mais uma vez eu te exclui. Aí você ficou puta, você brigou e pela primeira vez eu te ouvi mais alto, mas ainda assim achei que eram apenas as dúvidas normais que todas as pessoas tem com a própria vida, mas não era. Então mais uma vez eu esqueci quem era minha melhor amiga de verdade e quebrei a cara. Por um tempo, isso foi um grande martírio, um período de muitas angústias e dúvidas.

Por fim, depois de muitos baixos estamos aqui, eu e você. Ainda estamos em conflito, eu ainda acho que falta algo e você vem me dizendo que temos tudo o que precisamos, mas ainda não consigo ver com precisão. Você me perdoa? Você sempre esteve certa, você manja dos paranauês.

Vamos começar novamente? Não posso fazer promessas, aliás, nem gostamos disso. Gostamos mais coisas planejadas e ação, afinal, coisas acontecem e não posso mais ser relapsa. Quero te ouvir mais, quero sua companhia e quero te conhecer melhor. Vamos ser parceiras? Quem sabe assim deixamos a caminhada menos dolorosa? Nada precisa ser difícil, contanto que estejamos ligadas com nossos valores, desejos e vontades. Mas você sabe de tudo isso, né? …

Me desculpe pela teimosia, me desculpe por não te ouvir. Vamos começar de novo?

badge_post_01BEDA é um projeto inspirado no VEDA (Vlog Every Day April) e que significa Blog Every Day August. O que quer dizer que a ideia é fazer um post por dia –ou, convenhamos, tentar ao máximo!– durante todo o mês de agosto criado pelo grupo Rotaroots, que tem o objetivo de resgatar a época de ouro dos blogs pessoais, incentivando a produção de conteúdo criativo e autoral, sem ser clichê e principalmente, sem regras, blogando pela diversão e pelo amor.

 

4 comentários

  1. biancapalaci diz:

    Que lindo esse texto, me identifiquei com tantas partes dele!
    Beijos
    Bluebell Bee

    1. viapoli diz:

      Muito obrigada, Bianca <3

  2. Acho que a vida é um contraste de momentos de lucidez e aquelas desculpas que a gente inventa pra fazer as coisas do jeito que a gente acha melhor. Aí a gente fica pulando amarelinha entre um e outro momento. Faz parte!

    1. viapoli diz:

      Acho que é bem isso mesmo Luana… O pior é que ficamos inventando desculpas pra nós mesmos, como se não soubéssemos o que é realmente bom. Mas também acho que faz parte =)
      Beijos

Deixe uma resposta